MST inaugura Escola Nacional Florestan Fernandes

2005-01-21 00:00:00

Localizada perto de São Paulo, ela pretende proporcionar a trabalhadores rurais
do Brasil, alfabetização e formação técnica

O MST inaugura neste domingo, no município de Guararema SP, seu mais ambicioso
projeto de educação: a construção da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF).
Trata-se de uma escola de capacitação técnica e de formação de trabalhadores
rurais. Seu objetivo é proporcionar a jovens, mulheres e homens do meio rural
educação voltada para a realidade do campo, tendo em vista a diversidade
cultural do país. A ENFF destina-se a assentados e integrantes de movimentos
sociais. A grande diferença das demais escolas é que, após passar pela
Florestan Fernandes, os alunos voltam para a sua comunidade rural e utilizam na
prática o que aprenderam no banco escolar.

A experiência na área de educação não é nova para o MST. Desde 1984, o
movimento se preocupa e realiza projetos nessa área. Ao longo de sua história,
construiu 1500 escolas públicas em assentamentos e acampamentos, educou 160 mil
crianças e adolescentes e formou mais de 4 mil educadores. O movimento orgulha-
se de ter alfabetizado, só entre 2003 e 2004, 58 mil jovens e adultos
trabalhadores rurais. Na ENFF, são oferecidos há quatro anos cursos ministrados
pelo Instituto Técnico de Pesquisa e Reforma Agrária (Iterra), registrado no
MEC. Além disso, o MST também mantém convênios com universidades federais e
estaduais como UNICAMP (curso de realidade brasileira), UERJ (teorias sociais),
UFMG (realidade latino-americana) e UFPB (História)

Entre os cursos programados para a ENFF constam administração cooperativista,
pedagogia da terra, saúde comunitária, planejamento agrícola, técnicas
agroindustriais e outros cursos de nível médio. Os professores que lecionam na
escola trabalham nas universidades conveniadas e escolas técnicas. Também
contribuem no sistema educacional do movimento amigos e simpatizantes do MST.
Quase todos eles trabalham de maneira voluntária.

As obras da ENFF foram iniciadas em 2000. Os trabalhadores do movimento que
ajudaram a construí-la passaram por cursos de alfabetização e supletivos ao
longo da obra. A escola foi construída por assentados. Organizados em brigadas,
esses trabalhadores ficavam cerca de 60 dias trabalhando na construção da
Escola. Em seguida, voltavam para seus Estados e davam lugar para uma nova
brigada. Ao retornar, esses trabalhadores puderam utilizar os ensinamentos
aprendidos na Escola para contribuir e melhorar a qualidade de seus
assentamentos e acampamentos.

Toda a ENFF foi construída com tijolos de solo-cimento, fabricados na própria
escola. Além de serem mais resistentes, fáceis de assentar e dispensarem reboco,
contribuem para diminuir a quantidade de ferro, aço e cimento na obra. Ao final,
acabam gerando uma economia de 30% a 50% em relação a uma edificação
tradicional. Os tijolos também dispensam o uso de fornalhas. Eles são levados
para secar ao ar livre, evitando, assim, a queima de madeira. Esse tipo de
manejo atende a um princípio fundamental para o MST: preservar e saber utilizar
racionalmente os recursos naturais.

Contribuíram financeiramente para a construção da ENFF, personalidades,
organizações não governamentais internacionais e doadores. Sebastião Salgado,
José Saramago e Chico Buarque fizeram campanhas que possibilitaram a compra do
terreno. ONGs como a FDH (França) - que também financia projetos sociais na
África, Ásia e América Latina - e a Cáritas (Alemanha), que defende e promove
os direitos de populações em situação de exclusão social em todo o planeta,
propiciaram recursos para a obra. Além disso, houve doações de amigos do
movimento. O projeto arquitetônico ficou por conta de Lílian Lubochinski. A
empresa Integra - cooperativa de trabalho interdisciplinar - foi responsável
pela Engenharia da Escola. O custo total do projeto foi de US$ 1,3 milhão.

Para a inauguração estão confirmadas as presenças dos ministros Tarso Genro
(Educação), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), José Fritsch (Pesca) e
do presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária)
Rolf Hackbart.