Nova relação campo-cidade é debatida em Fórum

2006-06-26 00:00:00

“Se o homem tem capacidade de destruir ele também pode salvar”, afirma Jorge Rulli, do Grupo de Reflexão Rural, da Argentina. Para o pesquisador, o ser humano é a solução dos problemas sociais, economicos e ao meio ambiente que ele mesmo causou. Uma nova relacao cidade-campo, objetivando um consumo racional dos alimentos e menos dependencia dos industrializados, das redes de grandes supermercados e das multinacionais foi um dos temas bastante discutidos durante o Fórum Social de Resistencia aos Agronegócios em Buenos Aires, na Argentina.

Para Rulli, a união entre ambientalistas e camponeses pode mudar a situação atual. “A tecnología nao é neutra e a ciência é um recurso que deve estar ao alcance de todos. Por tanto, precisamos nos articular em torno dos nossos desejos, que sao comuns”, defende. Ele aponta que, atualmente, o monocultivo de oleaginosas (principalmente a soja) e de florestas para a produção de pasta de celulosa, a exportação de petroleo e a mineração química são os quatro modelos dominantes do agronegócio no Mercosul. Realidade que precisa ser combatida caso os povos ainda queiram ter uma alimentação variada e qualidade de vida. “Se vamos adotar esta matriz do biodiesel dentro do modelo do agronegócio sem lutar, por exemplo, acabaremos plantando somente soja. Nos faltará alimentos”, alerta.

Caso que se agrava diante da relação promíscua entre as multinacionais de sementes, de alimentos e das grandes redes de supermercados com os governos latino-americanos. “A corrupção age como um meio estrutural em grande parte de nossos países. As multinacionais do setor agrícola e de alimentos tem uma relação direta e de corrupção com órgaos governamentais”, aponta o advogado Pedro Biscay, da organizacao Ceppas, da Argentina.

Ele também salienta os fragéis e, em muitos casos, inexistentes códigos do consumidor e direitos dos cidadãos à alimentação. “Algunas Constituicoes de países latino-americanos afirmam que seus cidadaos têm direito à alimentação, mas na prática milhoes de pessoas passam fome. Em outros países ainda, as populacoes precisam lutar para que este seja um direito do cidadão e um dever do Estado”, analisa.