Apontando problemas na grande mídia

2005-08-09 00:00:00

Foi lançado hoje o Observatório Brasileiro de Mídia, versão
nacional do Observatório Global de Midia, lançado no FSM
2005. O objetivo da iniciativa é produzir estudos sobre a
cobertura dos meios de comunicação brasileiros em relação a
temas como trabalho, política econômica e cobertura
política.

O professor da Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA-USP) Laurindo Leal Filho
será o presidente do Observatório. O jornalista Joaquim
Palharem, vice-presidente da iniciativa mundial, ocupará a
secretaria-geral, e o sindicalista Kjeld Jakobsen, da
Central Única dos Trabalhadores (CUT), foi nomeado
tesoureiro.

Apesar de ter sido anunciado hoje, o Observatório já estava
funcionando desde meados do ano passado. As produções podem
ser encontradas na página www.observatoriodemidia.org.br. A
primeira atividade foi a análise da cobertura das eleições
municipais de São Paulo. Estudantes da USP acompanharam o
noticiário de cinco jornais da capital sob a orientação de
José Coelho Sobrinho, professor do laboratório de
Jornalismo Impresso e chefe do Departamento de Jornalismo e
Editoração da ECA. A conclusão foi que a mídia em geral
favoreceu a candidatura de José Serra, do PSDB.

Apresentações

O lançamento contou com a presença de professores
universitários e jornalistas, além de muitos estudantes na
platéia. O principal assunto foi a concentração dos meios
de comunicação no país. Segundo os palestrantes, ela deve
ser combatida pelo Estado. Para o professor da ECA-USP
Venício Lima, autor do livro "Mídia: teoria e política", a
área de comunicação precisa de mais leis. "Falta regulação
e os empresários sempre foram bem organizados", criticou.
"Historicamente tem sido priorizada a liberdade de empresa
e não de imprensa", acrescentou Marcus Ianoni, docente da
Faculdade Caspér Líbero e membro do Instituto Ágora em
Defesa do Eleitor e da Democracia.

O jornalista Carlos Tibúrcio, assessor especial da
Secretaria Geral da Presidência da República, concordou com
a necessidade de participação do Estado, mas ressaltou que
a há um longo caminho a ser percorrido dada a resistência
dos donos de meios de comunicação. "Não teremos resultados
a longo prazo, mas conseguiremos melhoras", afirmou.
Tibúrcio foi um dos idealizadores do Observatório Global de
Mídia, lançado no FSM 2003 e presidido atualmente pelo
francês Ignacio Ramonet.

Os palestrantes ressaltaram que mudanças nas leis não
bastam. Para eles, é preciso também mudar o modo como a
comunicação é tratada. "A informação não pode ser tratada
como mercadoria", lembrou o jornalista e ex-deputado
federal Milton Temer. Mesmo que seja vista como um produto,
quem a 'consome' tem direito a uma boa qualidade, lembrou
Jakobsen. "Se sou consumidor e tenho direito a ter
informações sobre qualquer produto, por que não posso saber
mais sobre a mídia?", questionou.

Temer pediu ênfase em estudos e na regulação sobre a mídia
eletrônica. "Jornais impressos não são concessão pública,
ao contrário de canais de televisão. A TV precisa ser
melhor regulamentada". Os canais televisivos concentram a
maior parte da verba de publicidade. Os integrantes da mesa
também lembraram que muitos congressistas são donos de
meios de comunicação ou aparentados, o que dificula a
aprovação de leis sobre os meios de comunicação. "Apesar do
fracasso das propostas de criação do Conselho de
Jornalistas e da Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do
Audiovisual), isso ao menos estimulou o debate sobre esses
temas", disse Venício Lima. "O ano de 2004 marcou o avanço
na consciência da necessidade de discussão".

Com o Observatório funcionando, eles esperam que o assunto
fique ainda mais em pauta. Iniciativas similares já estão
sendo implantadas na Venezuela e na França.