Ato denuncia o monopólio da mídia

2005-08-09 00:00:00

O aniversário de dois anos do jornal Brasil de Fato foi
comemorado com a lotação de um dos maiores espaços cobertos
de Porto Alegre, o Auditório Araújo Vianna, no centro da
capital. Cerca de três mil pessoas participaram da festa
iniciada às 20h30min de sexta (dia 28) com shows de
artistas brasileiros, cubanos e peruanos, antes dos
discursos de personalidades como Tariq Ali, Hebe de
Bonafini, Kiva Maidanik, Medea Benjamin, Aleida Guevara,
Raul Pont, Plínio de Arruda Sampaio, Dom Tomás Balduíno e
João Pedro Stédile.

A imagem bíblica da pedra de Davi contra o gigante Golias e
as manifestações de apoio ao presidente da Venezuela, Hugo
Chávez, foram recorrentes nas falas dos convidados. “O
jornal Brasil de Fato pode ser hoje apenas uma pedrinha,
mas se cada um tiver a sua na mão, vira uma pedreira”,
disse Sampaio. Antes de apresentar-se ao violão, um
trovador da Bahia lembrou das pedras como armas dos
seguidores de Antônio Conselheiro, atiradas em Canudos
contra as tropas do coronel Moreira César, na terceira
expedição enviada pelo governo brasileiro para destruir o
povoado. Canudos resistiu por vários meses até sucumbir com
o avanço da quarta expedição, em outubro de 1897.

Críticas

O escritor Tariq Ali, paquistanês radicado em Londres,
editor da revista New Left Review, entrou no espírito das
reportagens e editoriais do jornal e fez críticas ao
governo Lula, sem no entanto nomeá-lo. “Não é possível
mudar o mundo se estamos ajoelhados diante do FMI, se
fechamos os olhos para o sofrimento dos pobres”, disse.
“Quando políticos de esquerda dizem que não podem mudar o
mundo, estão mentindo”. Em seguida, Ali fez elogios à
capacidade de resistência de palestinos, iraquianos e
venezuelanos.

“Todas as lutas na Venezuela foram ganhas com o apoio do
povo, que votou em Chávez por cinco vezes. Em todo o mundo,
os pobres se parecem; a diferença está na consciência dos
governantes”, disse o escritor. A fala de Ali foi
complementada pela ativista argentina Hebe de Bonafini, que
completou: “Hugo Chávez nos mostra que há muitas formas de
se fazer a revolução”.

Palavra roubada

Diante de uma platéia que por várias vezes vaiou símbolos
da Rede Globo exibidos em dois telões, Raul Pont lembrou o
crescente monopólio das comunicações. Os apresentadores do
evento definiram o Brasil de Fato como “fonte de águas
claras que traz as verdades dos povos em luta”. Num vídeo
com imagens do lançamento do jornal em janeiro 2003,
durante o terceiro Fórum Social Mundial, foi destacada uma
frase de Eduardo Galeano, falando da necessidade de
“recuperar a palavra roubada”. Na época do lançamento, como
apoiadores do surgimento de um jornal que fizesse
contraponto à grande mídia, estavam Olívio Dutra, Sebastião
Salgado, Galeano e participantes do FSM que retornaram para
a festa do segunto aniversário, como Hebe, Sampaio e Aleida
Guevara.

O grupo de jornalistas e fotógrafos do Brasil de Fato subiu
ao palco e foi aplaudido de pé pelos integrantes da mesa e
demais convidados especiais, entre eles a atriz Letícia
Sabatela, o cientista político Emir Sader e frei Leonardo
Boff. No palco e na platéia também estavam representantes
da UNE, do MTD, do MST, da Pastoral Operária, da CUT e do
Grito dos Excluídos.