Indígenas: genocídio lingüístico

2005-08-09 00:00:00

A maioria dos idiomas do mundo está desaparecendo, e rápido. Noventa por cento dos 6,8 mil idiomas existentes no mundo
poderão ser extintos no próximo século. Este "genocídio
lingüístico", abordado, na quinta-feira, em um seminário
intitulado Liberdade para os Idiomas, é uma séria ameaça à
diversidade cultural.

José Antonio Vergara, médico e entusiasta de idiomas do
Chile, usou o termo "genocídio lingüístico", para descrever
o processo que deixa uma pessoa sobreviver fisicamente,
exterminando suas culturas e tradições juntamente com seu
idioma.

Na média, segundo Vergara, existiam somente cinco mil
pessoas falando cada um dos 6,8 mil idiomas listados pela
Etnologia, o que significa que muitos deles estão ameaçados.
A Dra. Tove Skutnabb-Kangas, professora da Universidade
Roskilde da Dinamarca e vice-presidente da Terralíngua,
cuja pesquisa foi mencionada freqüentemente no seminário,
forjou o termo "genocídio lingüístico". Ela também aplicou
o conceito da redução da biodiversidade global aos idiomas,
destacando que quando um idioma desaparece, ele desaparece
para sempre.

Nas escolas ao redor do globo, os estudantes estão expostos
a menos de 500 idiomas, concluiu o seminário. Outros
idiomas, em muitos casos até o idioma materno, são
ensinados em cursos opcionais.

Oficialmente, mais da metade dos Estados do mundo são
monolíngües. Na realidade, existe um cenário lingüístico
diversificado em vários países. No Brasil, por exemplo,
ainda são falados 192 idiomas, embora o português seja
considerado o idioma oficial. Em outros países, como o Peru,
o quechua é reconhecido como idioma oficial, mas, de acordo
com Antonio Vergara, "o idioma do Estado é o espanhol".

Para Vergara, a mídia nunca antes havia desempenhado um
papel tão importante para o domínio de um idioma.
Antigamente um Estado só podia influenciar a preponderância
por lei ou controlando o seu ensino nas escolas. Agora,
esse "novo instrumento de domínio" representa o meio e
também o fim.

O inglês está em toda parte. Ele fornece os termos
utilizados em tecnologia e rege a mídia de massa. Antonio
Vergara chamou essa emergência de uma cultura monolíngüe
global de "colonização de nossas mentes". Com isso, foram
criadas novas oportunidades para os ricos e poderosos. O
inglês é agora um dos mais importantes "produtos de
exportação" do Reino Unido e dos Estados Unidos, não só
pela ânsia dos estudantes estrangeiros em aprender o idioma
a qualquer custo.

Maria Luiza de Carvalho Armando, do Movimento Nacional
Brasileiro para a Defesa do Idioma Português, considerou
isso "a invasão universal do inglês através do poder
militar e econômico".

Antonio Vergara sugeriu que os estudantes aprendessem
inglês para ter melhores oportunidades: "O inglês é a
linguagem do mercado, do dinheiro, do poder e dos negócios".
Já Maria Luiza argumenta que muitas pessoas no Brasil, por
exemplo, assimilaram tantas palavras em inglês que
desconhecem as palavras em português.

François Simonnet, ex-professor da Universidade de Ho Chi
Minh, no Vietnã, criticou a tendência da adoção de palavras
estrangeiras, principalmente as inglesas, apesar da
existência de termos no idioma de quem fala. Esta
deturpação dos idiomas maternos é um novo fenômeno.

O Fórum Social Mundial, que tem a diversidade cultural como
uma dos assuntos centrais, tornar-se-á, segundo Antonio
Vergara, um importante espaço para os idiomas indígenas no
futuro.

http://www.ipsterraviva.net/tv/wsf2005/viewstory.asp?idnews
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