Brasil desafia monopólios e investe em software livre

2005-08-09 00:00:00

O Brasil gasta cerca de R$ 1 bilhão por ano com royalties
de licença nas área de informática. Só o Governo Federal
deve gastar por volta de R$ 300 milhões. Esse número tende
a crescer já que o país não é muito informatizado. Para
reduzir esses custos, as discussões sobre software livre
têm amadurecido. Um dos grandes incentivadores dessa idéia
é o presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da
Informação, Sérgio Amadeu, com quem a equipe da Agência
ViraJovem? e da Ciranda, conversou no último dia 29.

Agência ViraJovem?/Ciranda - Você poderia começar falando
da perspectiva que o Instituto Nacional de Tecnologia da
Informação (ITI)tem daqui para frente no que diz respeito a
essa luta pelo conhecimento livre, tendo como histórico
tudo o que já se desenvolveu. O que pode ser feito a partir
de agora com todas as lutas dos últimos tempos? O que se
espera para a defesa dos conhecimentos livres e
compartilhados?

Sérgio Amadeu - Este ano a gente espera avançar bastante,
dentro do Governo Federal, no uso do software livre. Nós
esperamos capacitar bastante técnicos e funcionários do
governo, porque o uso do software livre requer uma mudança
cultural. Ele não é um problema técnico. Tecnicamente nós
temos condições de resolver quase todos os problemas, mas o
que é mais difícil é você chegar para uma pessoa e falar
“olha, tudo aquilo que você aprendeu até agora de técnica
tem que renovar e estar disposto a aprender sempre”, porque
o software livre se baseia nessa melhoria constante das
suas aplicações. Abre espaço para muita gente que estava
esperando esse arejamento, essa possibilidade de conhecer
coisa nova, conhecer a essência daquilo que ele usa, porque
quando você usa software livre tem acesso não só ao
executável, tem acesso ao código fonte.

A comparação do Stalm é boa: “você não come só o bolo, você
tem a receita do bolo, você faz”. Então isso é bem legal!
Um usuário comum requer uma capacitação e, antes dele ser
capacitado, deve ser sensibilizado sobre o porquê de
estarmos usando o software livre. Então nós estamos armando
um processo: o comitê de implementação do software livre tá
avançando, tem vários projetos em vários órgãos e vai ter
um grande processo de capacitação. Por outro lado, se os
programas de inclusão digital do governo saírem também,
como o “Casa Brasil”, que faz uso do software livre e a
gente conseguir que não seja contingenciado o que foi
aprovado no orçamento, nós teremos mil unidades do Casa
Brasil em mais ou menos 15 mil computadores. Então vai ser
uma rede muito forte de software livre no País, e as
pessoas vão começar a ver que existe isso.

AVJ/Ciranda - E para a população em geral, há um projeto do
governo?

Sérgio Amadeu - O governo já decidiu também financiar um
computador mais barato para a população que recebe de três
a cinco salários mínimos. Esse computador vai ficar com uma
prestação em torno de R$ 50 e virá com 26 softwares livres
dentro dele. A gente espera vender mais ou menos um milhão
de computadores. Vai ser sensacional!

E é exatamente por isso que há um bloqueio nessa área. O
monopólio de software para desktop está tentando de todas
as formas evitar o uso do software livre nesse programa,
porque o computador vai sair de fábrica não só com sistema
operacional, mas com todos os aplicativos que precisa –
navegador, planilha de cálculo, editor de texto,
visualizador de imagem, editor de som, gerenciador de
download, tudo. O cara vai ter que ligar o computador e
tocar.

Ele não vai ter problema de instalação, nada. Se ele pegar
esse computador, nós vamos ter um incentivo enorme para o
software livre no Brasil e eu acredito que isso vai ter um
efeito em rede. Porque o nosso parque de computadores está
por volta de 18 milhoes e a gente vai ter pelo menos um
milhão de máquinas em software livre. Exatamente por isso,
o governo ainda vai decidir sobre essa questão. Está no
nível dos ministérios, porque a pressão é muito grande.

AVJ/Ciranda - Como as escolas participariam disso?

Sérgio - As escolas precisam começar a usar informatica no
seu dia a dia. Elas não usam. As de informática são
fechadas. Um ou dois professores dominam aquilo e enquanto
a gente não fizer dos computadores e da internet algo útil
para a formação, termos dificuldades. E para usar o
computador e a internet, a escola tem que optar – pela
plataforma fechada ou pela plataforma livre. Não adianta
falar “não, eu não opto por nada”, ela vai ter que optar.

No ano passado, nós treinamos 700 pessoas, técnicos do MEC,
para poder colocar os primeiros cinco mil computadores em
software livre, que já foram para as escolas. É muito pouco.
Tem mais ou menos 170 mil escolas públicas e apenas 20 mil
têm salas de informática. Dessas 20 mil, nove mil são
conectadas à internet e eu aposto que dessas 9 mil, as
pessoas não levam a turma lá para dar aula de geografia, de
história...na internet. Deve estar sendo usada ainda
precariamente para curso de informática básica. E aí não dá.

A gente tem que fazer um amplo processo de capacitação para
que o educador se sinta seguro. Porque quando você vai dar
aula na internet, é assim: não adianta falar que sabe de
tudo, você é um orientador. O termo navegação é muito bom
por causa disso. Uma pessoa que dirige uma embarcação no
mar, tem que saber se conduzir ali, mas ela não sabe tudo
que ela vai encontrar ali, se o mar vai estar revolto, se
não vai...então tem que estar apta a aprender a se virar em
situações que até o Pierre Levy chama de “dilúvio
informacional”. E os professores ainda têm muita
insegurança de ensinar num ambiente que é um mar de
informação. Agora, nesse mar de informação, o que é util, o
que é informação processada, o que é conhecimento? Ele tem
que ser capacitado para usar as técnicas de informação
livre no seu dia-a-dia. E uma outra coisa, é que a gente
precisa fazer uma grande campanha na moçada para que a
gente tenha mais hackers no Brasil, gente que gosta de
informãtica, de computação, de algoritmo.

AJV/Ciranda - Hackers do bem, não é?

Sérgio - O hacker não é do mal ou do bem. O hacker é um
aficcionado por computação. É que a mídia fala de hacker
como se hacker fosse um cracker. O cracker é aquele que tem
habilidades para praticar atos ilícitos ou criminosos na
rede. Esse é o cracker. Agora, o hacker é o seguinte: é o
cara que manja demais de programação, de computação...Na
sociedade da informação, infelizmente o Brasil é um país
que tem enfrentado muitos problemas. O pessoal não tem
estudado matemática, nós estamos caindo muito, estamos
perdendo número de engenheiros. Nós vamos ser só
consumidores de produtos desenvolvidos no primeiro mundo?
Se a gente quiser ser desenvolvedor, nós vamos ter que ter
muita gente desenvolvendo código no Brasil. E isso é porque
a gente não incentiva a moçada na escola pública.

Agora, o software livre pode incentivar – na hora que o
menino puder mexer no código do software, puder alterar,
fazer, ser incentivado. Em vez das pessoas falarem “não
mexe nisso”, deviam falar “mexa nisso, mexa e aprenda” ,
porque a tecnologia, meu amigo, é tentativa e erro. Não é
só no Brasil, não. É em qualquer lugar do mundo. O Código
aberto permite que as pessoas façam essas tentativas e
erros. Aí o educador tem que saber usar o código, que é
aberto no software livre, para também incentivar a
criatividade da moçada.

AVJ/Ciranda – Vocês têm pensado numa política para
denfender o software livre para o resto dos países da
América Latina?

Sérgio - O ITI tem uma parceria com o Instituto Nacional de
Tecnologia da Argentina. Nós começamos essa parceria no ano
passado. Convidamos os argentinos para desenvolver a
plataforma criptográfica aberta em softwares livre que o
Brasil está fazendo – o Brasil tem uma junção que é
coordenada pelo ITI com o Casnav da Marinha e Abin, UFSC,
USP, Unicamp e IT da Aeronáutica. Estamos construindo uma
plataforma que vai emitir chaves criptográficas.

Você pode falar “ah! Mas o que é isso?” Isso é uma coisa
essencial para assinatura eletrônica, só que as plataformas
que a gente usa são dos americanos, e a gente não domina o
que tem dentro delas. A gente não sabe se ela faz o que diz
fazer. Então nós começamos a construir isso. Porque a
segurança da informação na nossa concepção não se baseia no
segredo e no obscuro. Ela se baseia na transparência. Se a
nossa plataforma é livre, o código dela, todos vocês vão
ter acesso. Agora, para ela ficar de pé, o código dela tem
que ser robusto. Não é porque você conhece o código que
consegue fazer uma rotina, que quando ele estiver
executando aquele software, consegue recuperar as chaves
que ele emite. Aí sim, uma delas em segredo. Então nós
estamos fazendo essa solução em software livre e convidamos
os argentinos para participar. Eles estão avaliando, mas
acho que vão participar junto com a gente.

AVJ/Ciranda - O governo brasileiro tem apoiado iniciativas
de uso de softaware livre na América Latina?

Sérgio – Sempre que pode, o governo brasileiro apóia e
trabalha junto com a comunidade de software livre da
América Latina. Agora o governo da Venezuela também fez uma
norma de uso de software livre. O governo brasileiro mandou
uma delegação inclusive eu a integrei para Cuba, ajudar os
cubanos a usar o software livre, porque eles só usavam
plataforma proprietária, e nós começamos a implantar o
software livre em Cuba – o que é um contrasenso, né? Eu
falei “como um país que enfrenta o imperialismo americano
usa um produto que é o maior símbolo do que há de obscuro?”
Aí eles ficaram meio sem graça, mas fizeram um plano de
implantação de uso do software livre.

O Brasil está ajudando dentro das nossas possibilidades.
Nós fomos para a África, implantamos dois telecentros em
software livre. Um em São Tomé e Príncipe e outro em Cabo
Verde. E o de Cabo Verde tem uma história engraçada porque
nós levamos para lá a inteligência, não estamos levando
computadores. Nós levamos 10 computadores usados, mas só
para poder instalar o software livre lá dentro, para poder
conectar com satélite e tal. E eles tinham 20 computadores
que estavam desabilitando que eram melhores que os nossos.
Ees olharam assim “mas vocês estão doando isso?” Nós
acabamos doando 10 e eles ganharam 30, porque eles viram
que não precisavam jogar fora aqueles computadores. Eles
podiam usar aqueles computadores usando o linux em rede,
com todos os nossos aplicativos funcionando rapidamente. E
isso foi legal. Mas incitou um lobby pesado da Microsoft lá.

AVJ/VCiranda - Falam que a pressão é muito grande em cima
da tecnologia de informação livre. Como se dá essa pressão
e de que forma o governo tem tratado isso?

Sérgio - Olha, a pressão se dá, de um lado, pela opinião
pública. Eles tentam disputar a opinião pública lançando a
estratégia conhecida do medo, da incerteza e da dúvida.
Então eles vão chegar para um jornalista, para os veículos
e vão falar assim “olha, o software livre vai deixar o
Brasil isolado”. Eles começaram com isso. Aí nós falamos,
“não, o Brasil não está isolado.” O software livre está
presente, está crescendo na Ásia, está crescendo nos EUA.

Aí eles lançam outro argumento: “olha, usando o sofware
livre, você vai criar uma nova reserva de mercado”. Aí nós
falamos “alto lá! quem tem reserva de mercado é exatamente
a Microsoft”. Os editais para venda de computadores saíam
assim: “o hardware tem que vir com o “windows xpto” de tal
forma, com office”. Peraí! É monopólio mesmo, é reserva de
mercado. Uma reserva tão poderosa que ninguém se perguntava.
A Receita Federal tinha lançado um programa de Imposto de
Renda que só rodava em máquina windows. Isso é reserva de
mercado ou não é?

Aí nós conseguimos quebrar essa reserva e hoje você pode
rodar esse programa em Macintosh, que é um software
proprietário, que é um hardware proprietário, e também em
Linux. Ou seja: eu não posso obrigar você a escolher. Você
escolhe, é cidadão. Mas olha só: dentro do governo eu tenho
obrigação de usar uma solução. E na hora q você vai colocar
uma solução que não implica em envio de royalties ao
exterior, que permite a independência de fornecedores, que
é mais segura porque o código é aberto, e os nossos
técnicos podem ter controle absoluto sobre o que está
usando, e é baseado no compartilhamento do conhecimento, é
vantagem para o Brasil.

Os nossos técnicos, os nossos cientistas, não são só
usuários de um pacote fechado, eles têm acesso à sua
essência, ao seu código. Portanto, quando você vai aplicar
isso, o que acontece: vem o lobby, que age num Estado
gigantesco e penetra em seus poros. Atua junto a estruturas
burocráticas, tenta paralizar, tenta fazer editais de jeito
que não permita software livre. É muito forte a presença
desses lobbies. Eles têm escritórios lá em Brasília pra
fazer isso.

AVJ/Viração – Você falou sobre mudanças culturais e sobre a
ação do governo para várias classes sociais. Como é o
trabalho dentro do Governo Federal, especialmente em
autarquias que não podem ter o serviço paralizado, como
INSS? Como é a transição para sofware livre?

Sérgio - Onde a gente mais está avançando é no Serviço
Federal de Processamento de Dados (Ser), mas a empresa que
mais usa software livre, há muito tempo, é a Dataprev, que
está vivendo uma situação muito difícil, em que seu setor
crítico, que são os bancos de dados, a gente ainda não tem
plano de migração. Nisso é o que a gente gostaria que a
diretoria da Dataprev se empenhasse. Eles têm um plano de
migração de estação de trabalho. Mas o grande problema é
encontrar solução como o google encontrou. O google roda em
software livre, roda em banco de dados livre, SQL, e num
parque de servidores sobre Linux. Agora, é certo que a
forma de acesso aos dados do google é muito mais simples do
que os dados que estão na Dataprev. Mas nós temos que
inovar – usar computação distribuída, usar clusterização,
substituir mainframes. Mainframes são computadores que têm
um custo enorme de alto processamento, que cada vez que
você processa, tem que pagar pelas medidas, pelas ripagens.
É muito caro.

E nós temos alternativas que precisam ser pensadas. Elas
não são simples, nesse caso. Mas precisa começar uma hora.
Se a gente começar a pensar agora num projeto, é que nem a
plataforma criptográfica que eu falei agora, nós começamos
a contruí-la faz um ano. Ela vai ficar pronta no final
deste ano, não é uma coisa rápida, porque tem testes, tem
hardware envolvido. E no caso da Dataprev, substituir
aquele modelo, substituir os mainframes, reduzir custo,
usar solução livre, é uma coisa que vai requerer um plano,
e um plano de médio prazo. Mas isso precisa começar uma
hora. Nós estamos incentivando o uso, vamos até lançar
agora um sistema de gestão de documentos em software livre.

AVJ/Ciranda - Existe alguma ação voltada para satélites?

Sérgio - Não. Não é a nossa área. Nós usamos como o governo
usa, mas onde for necessário, porque a conexão via satélite
é muito cara e nós não temos necessidade.

AVJ/Ciranda - Mas é um setor estratégico de informação
também, não?

Sérgio - Claro que é, mas o Brasil precisa adquirir
autonomia nessa área e ela é muito cara. Quero lembrar que
a gente teve um desastre – eu não quero acusar nada, mas...
_ e que toda nossa inteligência na área espacial
especializada em foguetes, mais de 20 dos nossos principais
técnicos morreram num acidente (na base de Alcântara) no
ano de 2003. Isso pode parecer pouca coisa, mas atrasa
nosso programa espacial. Atrasa bastante, porque
concentrava a nossa inteligência. Insisto com vocês que
tecnologia você tem que fazer, não adianta ficar só
elocubrando.

AVJ/Ciranda - Quanto o Governo Federal gasta com royalties
da Microsoft?

Sérgio - Provavelmente uns R$ 80 milhões por ano, mas gasta
muito com banco de dados, licenças de processamento, de
mainframe...o gasto dessas soluções proprietárias deve ser
em torno de R$ 300 milhões – do governo. Agora, o país
gasta R$ 1 bilhão e 100 por ano de royalties de licença. E
esse número será crescente porque o Páis é pouco
informatizado. Quanto mais a gente se informatizar, mais a
gente vai gastar. Se a gente mudar de plataforma, de
paradigma, vai estar numa vantagem, porque vai conseguir
avançar sem enviar royalties. E uma vantagem que é legal
assim: nós vamos estar numa sociedade que vai usar cada vez
mais máquinas, equipamentos, com processamento. Então, vai
usar se tem processamento, se tem algum tipo de trabalho e
informação, vai ter software. E se a gente conseguir
apostar em software livre, tiver uma grande massa de
desenvolvedores, a gente vai estar participando de
softwares desenvolvidos internacionalmente, mas que podem
ser reutilizados, desenvolvidos localmente também. Então,
não é à toa que estamos aqui, também.

AVJ/Ciranda - Quem está coordenando a área de software
livre no Brasil?

Sérgio - O Marcelo Tussati, que está morando em Porto
Alegre. Ele é um cara muito novo, é um gênio, porque
coordenou 150 desenvolvedores do mundo na versão 2.4 do
linux. Nós temos muita aptidão nesta área. Hoje quem
coordena a versão 2.6 é um australiano, mas os brasileiros
participam do software, a gente dá opinião, disputa o
caminho da tecnologia. No modelo completário, desses
monopólios, nós estamos na mão deles. E eu insisto nisso:
tecnologia a gente tem que fazer. Vamos batalhar agora
várias alternativas inovadoras como substituirmos na
Petrobrás o supercomputador de US$ 8 milhões por um cluster
de servidores que simula, na verdade, um supercomputador
mas que processa, na verdade, a informação, com muito mais
velocidade que um supercomputador. Ele roda sobre Linux e
foi desenvolvido pelo Laboratório de Sistemas Integrados da
USP (LSI-USP). Então, veja, nós temos inteligencia
suficiente. Estamos também armando um arranjo para entrar
pesado na área de holografia (uma ação em 3D com uma base
em feixes de luz, que reproduz objetos). Veja, hoje faço
uma maquete de um prédio para vocês e está lá. A indústria
de ferramentas profissionais e de entretenimento vai
avançar para soluções holográficas. Então a holografia é
uma coisa incipiente, quase um filme de ficção. Mas se nós
entrarmos agora vamos sair na frente. Mas sabe qual é a
resistência que enfrentamos? As pessoas falam para mim
“quem já fez isso?” e eu digo “ninguém” e elas respondem
“então nós não vamos fazer”. Essa é a mentalidade do
colonizado, do submisso. Se ninguém fez, nós vamos fazer,
porque nós temos inteligência para fazer.

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