Fórum Social debate televisão

2005-08-09 00:00:00

Pode até não parecer, mas o Fórum Social Mundial faz um bem
danado para a televisão. A cada encontro aumenta o número
de debates em torno do assunto e os participantes se
multiplicam. Na recente edição, realizada em Porto Alegre,
até o espaço físico reservado à comunicação cresceu. Várias
tendas instaladas ao lado da Usina do Gasômetro, hoje um
centro cultural importante da cidade, abrigaram os
interessados no tema “Comunicação: práticas contra-
hegêmonicas, direitos e alternativas”. E, dentro dele, a
televisão foi cuidadosamente analisada.

Por se tratar de uma concessão pública e por ser o mais
abrangente veículo de comunicação, a TV acaba centralizando
as atenções. E é bom que seja assim. Com todo esse
reconhecido poder, ela é pouco discutida. Fala-se muito da
televisão enquanto negócio ou tecnologia. Feiras se
espalham pelo mundo reunindo produtores em busca de novos
formatos de programas (geralmente “game-shows” ou “sitcoms”)
ou empresários buscando os equipamentos mais modernos e
sofisticados. O Fórum Social Mundial abriu espaço para a
discussão crítica dos conteúdos da TV e de suas relações
com o Estado e a sociedade. Falava-se sobre isso na
Universidade ou nas organizações profissionais, mas de
maneira parcial e fragmentada. O Fórum globalizou o debate.

Os resultados concretos começam a surgir. Redes de
organizações preocupadas com o papel da TV firmam-se pelo
mundo. Propostas de ação junto aos organismos
internacionais e aos governos locais se concretizam. No
Brasil, o melhor exemplo é o compromisso assumido por
várias entidades de participarem ativamente no processo de
elaboração da nova Lei de Comunicação Eletrônica de Massa
prometida pelo governo federal.

Ao mesmo tempo, outra iniciativa, resultado do Fórum de
2003, começa a dar frutos. Naquele ano foi criado o “Midia
Watch Global”, um observatório internacional presidido pelo
jornalista Ignácio Ramonet, do Le Monde Diplomatique,
destinado a acompanhar o trabalho dos meios de comunicação.
E de incentivar o surgimento de observatórios nacionais. A
França saiu na frente e sob a direção do professor Armand
Mattelart criou o seu. Agora, neste Fórum, foi a vez da
instalação do Observatório Brasileiro da Mídia, uma
iniciativa que tem o respaldo acadêmico do Departamento de
Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da USP.

Trabalho não vai faltar, especialmente em relação a TV.
Basta ver como a Rede Globo cobriu o Fórum de Porto Alegre.
Enquanto os participantes do encontro debatiam, por exemplo,
o destino do planeta e por conseqüência da humanidade,
alertando para o perigo da escassez de água, da destruição
das florestas ou da escalada militarista, a principal
emissora de TV do país mostrava o movimento nas
churrascarias de Porto Alegre e tratava o Fórum como se
fosse um “Woodstock” redivivo. Diante de casos asssim, o
Observatório se propõe não apenas a observar, mas a
denunciar e exigir mais seriedade no trato da informação
pública. Está ai um belissimo fruto gerado pelo Fórum
Social Mundial.

- Laurindo Lalo Leal Filho, Sociólogo e Jornalista,
professora da ECA/USP,artigo publicado na Revista Educação,
nº 95, março de 2005.