LIÇÕES DA ASSEMBLÉIA POPULAR

2005-11-04 00:00:00

Os oito mil participantes da Assembléia Popular, realizada em Brasília de 25 a 28 de outubro, compuseram um quadro bem representativo da realidade brasileira. O que mais anima, ao pensar o Brasil que nós queremos, é constatar o Brasil que já somos, a partir da riqueza humana do seu povo, que se fez muito presente na maneira como se compôs esta “assembléia popular”.
Terminada a assembléia, ela permanece como referência importante, sobretudo para levar adiante o seu objetivo principal de incentivar o exercício consciente da cidadania, através da articulação das diversas iniciativas dos sujeitos sociais, em vista da construção de um projeto de país que atenda às aspirações de todos os brasileiros.
Neste sentido, a assembléia teve um significado simbólico, inspirador dos novos passos.
Ficou evidente a importância da mística, que caracterizou todo o desenrolar da assembléia. Pelas manifestações artísticas o povo revela a riqueza de sua diversidade cultural, e a consistência das motivações subjetivas que sustentam a sua vivência cotidiana. O primeiro fundamento a garantir o sonho do Brasil que nós queremos é, sem dúvida, a riqueza humana e a diversidade cultural do nosso povo, que se fez presente de maneira muito significativa nas manifestações artísticas acontecidas ao longo desta assembléia.
Outro aspecto que surpreendeu foi a ênfase dada à dimensão ecológica. Estamos, de certa maneira, redescobrindo o Brasil. As reflexões que foram recolhidas ao longo do processo das semanas sociais e de outras reuniões que precederam a assembléia popular mostram quanto são importantes os diferentes sistemas vitais, definidos como “biomas”, que precisam ser respeitados e recuperados, pois deles depende também a nossa vida.
Neste sentido, firmou-se uma nova referência ao pensar o Brasil, tendo como ponto de partida os diferentes biomas existentes, e os povos que os habitam. A floresta amazônica, a mata atlântica, o cerrado, o semi árido nordestino, o pantanal, o pampa, compõem um novo mapa do Brasil, que de certa maneira precisa anteceder o próprio mapa político da divisão entre os Estados, e apela para novos motivos de solidariedade ao pensarmos o Brasil a partir do dado primeiro e fundamental que a natureza nos oferece.
Daí é fácil perceber o interesse que desperta tudo o que faz parte do patrimônio nacional, e os critérios para tratá-lo com responsabilidade, dentro dos parâmetros da soberania nacional e da solidariedade entre as nações.
Esta “assembléia popular”, representativa de toda a realidade brasileira, foi feita com a suposição de continuar e fortalecer o processo que a suscitou. Esta disposição ficou fortalecida com a experiência da assembléia. De certa maneira, os participantes se sentiram convocados a permanecer em estado de assembléia permanente, dada a urgência da resgatar o debate político do atoleiro em que ele caiu.
Na próxima semana vão se reunir os representantes das dezenas de movimentos e entidades que promoveram esta assembléia. Respeitando a diversidade de causas e de agendas, próprias de cada movimento ou entidade, será dada atenção especial ao esforço de articulação, para que a diversidade de iniciativas possa convergir para o fortalecimento de um projeto comum de país, aberto a acolher a contribuição de todas as forças da cidadania que também quiserem se juntar neste “mutirão por um novo Brasil”.
A assembléia popular reacendeu a esperança de que ele é possível.
(www.diocesedejales.org.br)