Durban vê potências serem pressionadas

2011-12-03 00:00:00

Conferência para analisar as mudanças climáticas inicia com a crítica dos emergentes à postura refratária das maiores economias a uma nova etapa do Protocolo de Kyoto.
 
Durban.- O Protocolo de Kyoto que vence em 2012 corre risco de vida na COP 17, em Durban. Há um esforço dos países do chamado G77 para renovar o acordo até 2020 (ou 2015, no mínimo), porém a negativa ou a postura escorregadia de grandes potências pode implicar em um fracasso ambiental na cidade sul-africana.
 
O grupo que já demonstrou querer enterrar Kyoto é chefiado pelos EUA, que nunca foi signatário do protocolo, e ainda conta com Austrália, Canadá e Japão. Os países mais críticos à postura deste grupo são aqueles articulados na Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba).
 
Já a União Europeia tem apresentado posições confusas e insinua que não concordaria com uma nova etapa do protocolo se o bloco liderado pelos EUA não forem signatários. Representantes da Alba, em conversas extra-oficiais, acusam a União Europeia de esconder-se atrás da posição dos EUA, aguardando a decisão destes para segui-la.
 
A África do Sul deixa claro que envidará esforços para renovar o protocolo em Durban.”Não vamos deixar Kyoto morrer em solo africano”, declarou a presidente da COP 17, a sul-africana Maite Nkoana-Mashabane. A mesma postura pode ser observada entre os pequenos países- ilha, que correm risco de desaparecer em poucos anos, caso as mudanças climáticas não sejam controladas. Mesmo com pouco peso diplomático e populacional, esse grupo de países tem exercido papel fundamental na pressão pela renovação do protocolo. “Algumas partes estão com uma visão de 2012, não de 2020”, contestou o representante de Grenada, ilha caribenha, na COP 17, referindo-se à possibilidade de o país não existir mais em 10 anos.
 
Fundo Verde
 
Além da renovação do protocolo de Kyoto, a questão da constituição deu um fundo internacional para o desenvolvimento do meio ambiente gera atrito entre os países em Durban.
 
Desde a COP 16 em Cancun, no México, o estabelecimento do chamado Fundo Verde é dado como certo, no entanto, a maneira de geri-lo e o financiamento causam polêmica.
 
Sob o pretexto da crise econômica, os EUA afirmam que não poderão contribuir com reservas públicas para o Fundo Verde e sugerem que este seja financiado pelo setor privado de forma voluntária.
 
Em resposta à posição dos EUA, os países da Alba sugerem que aqueles que não contribuírem com o fundo devem ser impedidos de participar do mercado de crédito de carbono e de mecanismos de financiamento de energia limpa.
 
Outra exigência dos EUA é que o fundo seja gerido sob a édige de alguma instituição multilateral, como o Banco Mundial. Já os países da Alba querem dar mais autonomia ao fundo.
 
Com esses atritos, passou a se especular que o Fundo Verde pode não ser aprovado em Durban, o que, ao lado da possível não renovação de Kyoto, tornaria a COP 17 um fracasso.
 
Brasil constrangido
 
A organização Climate Chance Network concedeu ao Brasil o prêmio “Fóssil do Dia”, no dia 2 de dezembro, em função da aprovação do novo Código Florestal pelo Congresso. “O que o Brasil vem pedir aqui, se dentro de casa aprova nova lei que cria oportunidade para que as emissões de gases do efeito estufa sejam muitas vezes mais elevadas que o que é emitido hoje pelo país?”, questionou a organização em comunicado.
 
O prêmio é concedido diariamente na COP 17 aos países que “fazem o melhor” para atrapalhar as negociações, de acordo com a organização. Para o embaixador André Aranha Corrêa do Lago, diretor do Departamento de Meio Ambiente do Itamaraty e negociador do Brasil na COP-17, o novo Código Florestal não deve implicar no aumento da emissão de poluentes.
 
- Renato Godoy de Toledo - Brasil de Fato