Stédile apresenta modelo de dominação usado pelas transnacionais na Jornada de Agroecologia
Ao investir em empresas do setor agropecuário, os grandes bancos concentraram toda a cadeia de produção em um único conglomerado. “A Monsanto, por exemplo, não era conhecida há dez anos atrás e hoje é a maior empresa do mundo no setor, com produção de fármacos, herbicidas, tem silos, armazéns e navios, além de usar o capital para produzir e controlar as sementes”. Stédile diz que poderia usar outros exemplos que não a Monsanto. “Poderia ser a Syngenta, que fazia produtos veterinários e hoje também é um grande complexo alavancado pelo mercado financeiro, o que demonstra a centralização do capital”.
Outro movimento do capital foi a internacionalização das empresas, com difusão do mesmo método de plantio, por exemplo, e definição do preço dos produtos nas bolsas de commodities. “As empresas manipulam o preço dos grãos na bolsa e o preço dos insumos”. Para ilustrar, Stédile mostrou que o preço do açúcar na Década de 90 era de US$ 10,00 a tonedada e está em US$ 6,00 a mesma tonelada. O café caiu de US$ 66,00 para US$ 40,00 e o arroz, de US$ 290,00 para US$ 160,00. No caso da soja, mesmo com a queda na produção mundial, causada pela seca nos Estados Unidos, no Brasil e na Argentina, o preço da saca caiu de US$ 18,00 para US$ 9,00. “Esse preço é manipulado pela Cargill, pela Monsanto e pela Bunge, que derrubaram o preço para fazer estoques. Daqui a dois anos, a soja volta a US$ 15,00 a saca, mas daí essas empresas terão grandes estoques, para continuar lucrando no mercado”.
O líder do MST diz que os objetivos das transnacionais é o controle de todo o comércio agrícola das commodities, a padronização dos alimentos no mundo todo, a propriedade privada da terra, da água e da biodiversidade, o controle dos governos locais, dos meios de comunicação e dos organismos de direito internacional e a consolidação do modelo de exploração agrícola com as características de grandes extensões de terra voltadas para a monocultura, com uso intensivo de agrotóxicos, mecanização e redução do uso de mão-de-obra. “A conseqüência desse modelo é a perda da soberania dos países sobre a agricultura, perda da soberania alimentar, devastação da natureza, destruição do modelo camponês de viver, desemprego agrícola e uma sociedade mais pobre e desigual. Estamos nesse momento numa verdadeira guerra contra esse modelo, que ou será derrotado, ou acaba com o nosso modelo de vida”.
Experiências internacionais são trocadas durate jornada de agroecologia
Mostrar como a ecologia e os seres humanos podem conviver socialmente, este é o objetivo da Rede Amigos da Terra, uma organização não-governamental uruguaia de ecologia social que está dividindo suas experiências durante a 5°Jornada de Agroecologia “Construindo o Projeto Popular e Soberano para Agricultura”, que vai até sábado no Centro de Eventos de Cascavel.
“A concepção é diferente dos ecologistas que primam unicamente pela ecologia, nossa intenção é focar a convivência sadia entre a população e o meio-ambiente”, explica o representante da Rede Amigos da Terra, Carlos Santos.
Santos comenta que, na prática, essa interação acontece resgatando as técnicas tradicionais, além de criar uma cultura entre os agricultores que utilizam estas técnicas agroecológicas com a troca de sementes crioulas aprimoradas naturalmente. “Resgatamos as técnicas de povos tradicionais de suas regiões como os indígenas e camponeses que possuem está dependncia da terra sadiae bem cuidada”.
A troca de experiências entre os países vai mais longe do que a participação de entidades internacionais, “pretendemos ampliar a participação dos agricultores uruguaios na jornada”, finaliza.