Em debate, a soberania alimentar

2007-02-22 00:00:00

Sélingué, Mali:- Para que lutamos? Contra quem lutamos? O que podemos fazer? Essas são algumas das perguntas que movimentos sociais de todo o mundo buscarão responder durante o Fórum Mundial por Soberania Alimentar, de 23 a 27 de fevereiro, em Mali, na África, também reconhecido por Nyeléni 2007.

Concebido por nove organizações – como a Via Campesina, a Marcha Mundial de Mulheres, a Rede de Organizações de produtores e agricultores da África Ocidental (Roppa) e o Fórum Mundial de Pescadores e Trabalhadores da Pesca (WFF), entre outras –, o encontro contará com a participação de representantes de movimento de indígenas, camponeses, agricultores, pastores, piscicultores e também de consumidores e organizações urbanas.

O objetivo, explica Rosângela Cordeiro, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), é fazer um diagnóstico da ação do agronegócio e das transnacionais em diferentes países, trocar experiências e elaborar alianças e estratégias conjuntas para frear o avanço do neoliberalismo no campo e na produção de alimentos. “Cada povo tem sua cultura própria, maneiras diferentes de produzir e se organizar. O Fórum é importante não só para trocarmos experiências, mas para garantirmos a união dos que estão resistindo em todo o mundo”.

Uma das discussões será em torno das diferentes concepções do que é soberania alimentar que, de modo geral, pode ser definida como o direito dos povos, comunidades e países de definir suas próprias políticas para a agricultura, pesca, consumidores e comércio de alimentos, desde que essas políticas sejam ecologicamente sustentáveis, contribuam para a justiça social e não restrinja a possibilidade de outros povos fazerem o mesmo. Vista como um direito humano, a alimentação saudável não pode ficar à mercê do mercado.

Mali

A escolha do continente africano para sediar o Fórum não foi por acaso. “A África é símbolo da situação de miséria e fome a que as pessoas são submetidas por conta da política neoliberal”, explica Rosângela. Mali, país que sediará o evento tem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) apenas maior que o de Serra Leoa e do Níger, ocupando o 175º lugar (o Brasil está na 69° posição).

Além disso, é um país essencialmente agrícola. De acordo com os organizadores, a escolha do local foi para que os debates se dessem num contexto rural. “É uma escolha política que tem como objetivo mostrar a coerência entre as propostas para a soberania alimentar e os meios necessários para alcançá-la”, diz nota de divulgação do evento. O evento será na cidade de Sélingé, localizada próxima a uma hidroelétrica no rio Sankarani, afluente do Niger, o terceiro maior rio da África.

Há ainda outro motivo para a escolha do local. Em Mali, há a lenda de Nyeléni, que empresta seu nome ao Fórum. Nyeléni venceu o preconceito por ser mulher e filha única - algo visto negativamente na cultura africana – e se tornou uma grande camponesa e domesticadora de animais, beneficiando sua comunidade. "É um símbolo poderoso que pode servir como símbolo da soberania alimentar. Ela deixou sua marca na história de Mali como uma mulher e como uma grande camponesa. Quando você menciona seu nome, todos sabem o que representa. Ela é a mãe que traz comida, a mãe que cultiva, que luta pelo seu reconhecimento enquanto mulher em um ambiente que não favorável. Se usarmos esse símbolo, todos saberão que se trata de uma luta por alimentação, uma luta por soberania alimentar", diz Ibrahim Coulibaly, da Roppa.